quinta-feira, 31 de julho de 2008

Déjà vu: Nostalgia. Viagem a um lugar longínquo e parcialmente esquecido.

O Grêmio copeiro e praticamente imbatível de meados da década de 1990 sob o comando de Felipão. Em pé estão Arce, Danrlei, Rivarola, Adílson, Luciano e Carlos Miguel; agachados vemos Dinho, Jardel, Luis Carlos Goiano, Paulo Nunes e Alexandre Gaúcho

Em minha infância mal esclarecida, entre idas e vindas de um estado para o outro, ou de um espaço menor, uma cidade até a outra, peneirei algumas lembranças que até hoje vivem em mim. São elas: Vó Geni, Tio Kiko, chimarrão, frio, reuniões de família (informais), e claro, GREMISMO, muito do bom e puro GREMISMO. Apesar de o futebol ser assunto sério no Rio Grande do Sul, e praticamente incutir que a hereditariedade prevalece uma corrente única – ou vermelha, ou AZUL –, comigo foi diferente. Meu avô Antenor Pires, era um gremista fanático, frustrou-se ao saber que não poderia ludibriar o filho mais velho a tornar-se um gremista, já que os irmãos do seu pai, havia muito, já o seduziam com a indumentária colorada.

Comigo não foi muito diferente, com a exceção de que meu pai já frustrado, com a perda do seu filho primogênito às três cores do GREMISMO, me deixou viver sem influências do time alvirrubro, me deixando à mercê do meu tio fanático, porém, muito pobre. Fui me cativando pelas cores do manto, criando admiração pelos pôsteres que meu tio colecionava recordação póstuma do meu grande avô. Pra melhorar, meu interesse pelo futebol foi crescendo à medida que eu visitava a casa da minha avó, e assistia a uma cena que se repetiu durante muito tempo: Uma televisão ligada transmitindo ao jogo (sem som), um rádio ligado fazendo a transmissão do mesmo jogo, só que com uma narrativa mais parcial e empolgante, uma cama de casal, meu tio, e a felicidade. Minha empolgação durou concomitantemente à ascensão do Grêmio. Em 95, uma alegria e uma tristeza, tristeza que não nos abateu, nos levando à outra alegria logo em 96. Uma libertadores, vice-campeão mundial, e um campeonato brasileiro.

Doze anos depois, as imagens, as pessoas, as alegrias, voltaram à tona hoje. Meu dia cada vez mais escasso, limita o meu acesso ao futebol de forma completa. Vejo alguns jogos, quando não dá, assisto aos compactos, quando não dá, leio todos os blog’s esportivos, inclusive as criticas – e claro, existem muitas –, mas não deixo mais de acompanhar cada passo do meu glorioso Grêmio, na boa e na ruim. Eu espero sim, como todo bom gremista, o tricampeonato brasileiro esse ano. Porém, com todas as alegrias que tive até então, me contentaria unicamente com uma vaga na libertadores em 2009, a obsessão, como assim definiu Cristian Bonatto*. O Grêmio mais uma vez, demonstra que a camisa, a torcida, e o apoio são completamente essências. Aderir à uma causa, acreditar nela, é a única forma de se ver parte de alguma coisa, de deixar de se sentir alheio a tudo. E nesse meu pequeno mundo de frustrações, idéias e devaneios de pura inflexibilidade, tenho algo em meu coração em que acredito, e apesar de para alguns aparentar futilidade, para mim, também é obsessão. Grêmio ontem, hoje, amanhã e sempre, na boa e na ruim. “La Copa, se Mira y no se toca”.

*Redator do Blog do Torcedor no Globoesporte.com, página do Grêmio.

Vinicius Canova Pires

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Apresentações;















- Creio que para uma apresentação mais plausível, deveria sintetizar toda a informação e um texto pequeno, e de fácil compreensão. Mas é uma tarefa nada fácil, se eu tiver que espanar os acontecimentos antecedentes à gravação semi-profissional de nosso primeiro EP acústico. Na verdade eu (Vinicius) e o meu amigo Pedro Ivo, somos totalmente despretensiosos musicalmente falando. Porém, convenhamos que a vontade de fazer música, somada ao gosto diversificado, mas ao mesmo tempo parecido, nos deu respaldo musical mesmo com a máscara do amadorismo. Em 2005 durante férias inusitadas em Salvador, na companhia do meu amigo querido, Pedro Morais, vulgo Bolovo, toquei violão horas a fio para poder compor alguma coisa “interessante”.

A idéia saiu, ficou bom, mas ficou vazio. Faltava algo que enxertasse e deixasse a música com uma tônica diferente, algo que não caísse nos enlatados de cantorias melosas, tampouco que só estampasse uma figura de voz melódica e sem movimento. Foi então que na minha frustrada investida de ir ao show do Deftones em São Paulo, entrei na comunidade que já “esquentava” nos bastidores, especulações, idéias, encontros, amigos, encontrei meu amigo Pedro Ivo. Tímido, dava sugestões, algumas idéias, mas falava pouca coisa, não havia demonstrado um pingo de vocação musical e mesmo assim, conversando um pouco aqui, e ali, descobri que o cara era um típico autodidata, musicalmente falando. Seu timbre de voz, a vontade de criar, o inglês assíduo, fez com que amadurecesse a vontade de mandar minha gravação do que seria posteriormente chamado de “Just another day” e logo “Hanged”.

Claro, que esqueci de mencionar que isso tudo há mais de 3.000 KM de distância, na Capital de Rondônia e ele em São Paulo. Amadurecemos a idéia de um projeto a longo prazo, que demonstrasse todo o teor de nossas vontades musicais. E assim foi dada à largada ao projeto. Enfim, tive a oportunidade de conhecer São Paulo. E também a sorte de conhecer um grande amigo, que posso chamar com toda segurança de irmão. Criamos outras 7 músicas, dia e noite, criando no violão, e ele compondo no vagão do metrô, em direção do trabalho.

Não perdíamos tempo. O resultado de nossas experiências, trabalho, cansaço, e muito, muitooo café, você confere no: http://www.purevolume.com/droucan

”O homem bitolado e padronizado dá lugar à um ser completo, e cheio de idéias.”

Pedro Ivo

Vinicius Canova Pires

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O palhaço do circo sem futuro




















Que me perdoem os integrantes do Cordel do Fogo Encantado pela ausência de minha criatividade para dar origem a um título original. Mas acho que o próprio José Paes de Lira, já me considera absolvido diante das minhas justificativas para escrever um texto embasado em seu título. Em um de seus shows orneados com tramas teatrais, Lira conta a história de um palhaço moribundo, que recebe o seu filho em leito de morte. Segue-se a narração da história e conseguinte, o diálogo:


“Tudo começou quando o filho, morria de vergonha, porque o pai era palhaço de um circo sem futuro. E ele cresceu sem dizer onde era que o pai trabalhava para os amigos. Sempre muito envergonhado, cresceu com a vida muito amargurada, se formou em outra coisa, e um certo dia recebe a notícia, de que seu pai está no leito de morte. Ele corre até lá, entra no quarto, tira a gravata, tira o paletó, se ajoelha e diz: - Pai, me ensina a ser palhaço? - Pai, me ensina a ser palhaço? - Pai, me ensina a ser palhaço? - Isso não se ensina, seu bosta!”

Faz muito tempo que não sinto tanto êxtase ouvindo ou lendo um prelúdio, quanto senti com O palhaço do circo sem futuro. Sou adepto da teoria de que boa música lav’alma. Um palhaço. Um sorriso. A natureza desse sorriso. A disposição para sorrir. A tristeza. A fraqueza. A morte. E por fim, a insignificância e o esquecimento súbito. Quantos de nós somos palhaços de circos aleatórios e mesmo assim, sem futuro? E quantos de nós ainda insiste em querer aprender como ser um palhaço? E quantos milhões de nós, fazemos parte desse mesmo espetáculo circense que se chama vida, só que em papéis diferenciados, como as próprias marionetes? O que compreende ao texto de Lira, é que não é possível haver metamorfose em nossos papéis. O homem fechado, enclausurado para a vida, para idéias, para o dia-a-dia é responsável pelo seu desfecho “amargurado”.

Há de se compreender também ao próprio prelúdio que se trata de uma metáfora sobre valores morais. O texto passa à quem escuta a fascinação e inclusive encarnar mentalmente a cena. Eu por exemplo, fiz uma série de questionamentos sobre palhaços, desinteresse, morte, vida, abusos, acasos, morbidezes, e exageros. Apesar de Nação Zumbi caracterizar mais a cara de Chico Science pela continuidade póstuma de seu trabalho, creio que O Cordel do Fogo Encantado surpreende, e trato hoje Lira, como um excelente retrato da música brasileira, anexando peças teatrais e todo um espetáculo circense. E com toda a dramatização, não caí no estereótipo efusivo das demais tentativas. Sou um palhaço do circo sem futuro, você não. Quer aprender? Isso não se ensina, seu bosta!

Vinicius Canova Pires

terça-feira, 15 de julho de 2008

Reencontrando-me

Finalmente! Um pouco de luz, um pouco de eixo, um pouco de espaço, um pouco de ar, um pouco de alimento, um pouco de energia. Eu andei sedento esse tempo todo, buscando em infinitas coisas, o que pra mim era a pura necessidade de atenção e das coisas que regem as matérias básicas do coração. Eu tentei ser como meus amigos, ser como meus inimigos, meus opressores, meus professores, meus pais e familiares. Eu perdi a qualidade de ser único e versátil, para tornar-me universalmente fútil e desagradável. Eu vesti o que não me agradava, eu comia o que descia enojado, eu agradei políticos, eu um fui político! Eu não rejeitei nem a corja dos imbecis que sempre critiquei. Fui a carnavais, festas de final de ano, ressacas de bebedeiras intermináveis com o pessoal do forró. Forró? Quando isso foi música? Queimei meus discos de vinil, vi as capadas de Chico Buarque de Holanda em chamas ardentes, se alastrando por uma dispensa de coisas que considerei obsoletas, quando eu perdi a sombra da minha personalidade.

Fui ao templo sagrado do reino do Deus, quando este mesmo Deus fora renegado e deturpado por diversas vezes pela boca deste que vos fala. A mania antiquada de saquear dinheiro dos ignorantes, mas que no final das contas acabou me atraindo, foi o que trouxe à tona essa sedução. Entrar para igreja, e ficar rico. Coçar o saco, benzer meia-dúzia de pobretões e gozar em festas particulares e aventuras desregradas. O que há de mal nisso? Quantas sucessões de padres, pastores e patriarcas católicos e evangélicos já viveram essa vida mansa – e melhor ainda –, sem o ministério púbico e o tribunal de contas no pé. Ué! E melhor ainda, igreja não declara imposto. Vida boa. Quando saí dessa vida, e pisei no primeiro chão fora de igreja, vi em mim, um homem. Mas não um homem comum, observei a total falta de perspectiva, e a vontade de ter novamente em mim, aquela maldita sombra que me deixou ao relento da mediocridade. Agora sem a turma do forró, sem Jesus Cristo, sem as futilidades, fui perdendo de vez a ambigüidade que me deixou agregar nesses grupos políticos, com a costumeira postura da boa vizinhança. Mas como voltar a ser “eu mesmo”, sem que deixe às claras as minhas seqüelas? Eu sinto como se as minhas vísceras estivessem expostas. E um ferimento assim exposto, é apenas um toque para que ocorra uma hemorragia.

Eu andei introspectivo nessas duas últimas semanas, tentei avaliar qual era o melhor meio para fazer a minha travessia. É como se houvesse um caminho longo a ser percorrido, com obstáculos, com barreiras, e como se não houvesse respaldo nenhum para chegar ao fim. Sem as ferramentas necessárias, sem meus amigos, sem fé, sem caráter, o caminho foi ficando mais estreito, o ar mais comprimido. Estou gripado, e essa gripe vem concomitantemente à minha tuberculose. E depois de desregrar completamente a minha vida, querendo voltar a ser o que era antes, vejo que não é mais possível. E fico pensando: - Como foi tão fácil mudar pra pior. Por que pra melhorar, é preciso ir morrendo aos poucos? É como se fosse possível sim voltar ao meu estado de natureza, o que eu realmente sou, porém não sem perder muitos anos de vida. Cansaço. Essa é palavra certa pra designar o que eu sinto. Eu posso largar tudo de mão, e continuar com a estirpe de gente ignorante, dando voltas, voltas e mais voltas pela vida e mentindo pra mim mesmo. Mas acho que esse caminho seria muito mais difícil. A minha consciência não permite mais mentiras. É como se o meu lóbulo começasse a latejar. E mesmo se pedisse a Deus por obséquio para aliviar-me a dor, isso não aconteceria. Com que fé isso aconteceria? Meus preceitos religiosos, não me permitem esse tipo de apelação. Mesmo que às vezes seja impossível e inevitável clamar por Ele. Essa dor é gradual. Acho que não é mais possível aliviar o meu cansaço. E tampouco voltar a ser o que era antes, sem me machucar profundamente. Penso sim, no isolamento. Mas junto ao isolamento vem-me à cabeça a palavra: covardia. E ser covarde não me agrada. Usei muito esse adjetivo para com os outros, e usá-lo em mim agora, seria desistir da vida. Mas acho que foi a vida mesmo que designou-o a mim. Fica latente em minha cabeça: Nasci e me criei como um bravo, vivi como um bom político que sou, e vou morrer como um covarde. Assim o é, assim eu sou.

Vinicius Canova Pires

sábado, 12 de julho de 2008

Minha apoteose (Pura pretensão)

Jó era um cara legal. Alessandro nem tanto. Gustavo era paranóico. E Henrique, bem... o Henrique tinha lá seus distúrbios sexuais desenfreados. Vide o novilho que virou vítima em um desses campus rurais universitários para estudantes de veterinária(e o que virou na própria casa), zootecnia, entre outros cursos da área do campo. O que há de comum entre eles? Em caráter e personalidade, absolutamente nada. Mas todos foram encontrados pela dona Morte, que não teve misericórdia na hora de puxar cada um pelos cabelos. Jó era do tipo que não se importava em gastar seu dinheiro, se o bem comum fosse o objetivo. Recebia no primeiro dia útil do mês, e no segundo já estava sem um puto no bolso. O Gustavo tinha aquela velha mania de perseguição, coitado. Se ele soubesse o quão irrelevante para os outros era sua existência, estaria curado repentinamente. O Alessandro tinha aquele mau humor que lhe era peculiar. De manhã cedo já acendia um cigarro, fitava o céu, e por mais bonito que estivesse a frase imperativa era: - Que merda de dia. Lembro quando ele me contou que duas senhoras se aproximaram dele, dizendo:
- Menino, desse jeito você vai morrer cedo.
- Não senhora, eu não tenho tanta sorte assim.
- Ai Meu Deus, Dinorá, vamos sair daqui. Esse marginal me dá medo.
Mal ele sabia que teria sorte, se assim ele o considera.

Bom, pelo menos desse episódio saiu um sorriso de Alessandro – só que claro, de puro escárnio –, porém ele estava só satisfação.

Henrique era obcecado pelo sexo. Mulheres, animais, homens, plantas, tudo o que se movia era alvo de sua atenção. Claro que o destino dele não poderia ser qualquer outro diferente se não adquirir de forma súbita o vírus da imuno deficiência adquirida – AIDS ou vírus do HIV –, depois de presunto, quem se importa com a nomenclatura? Eu nunca fui amigo de nenhum deles, mas observava-os quando tinha chance. Estudar psicologia é o meu fardo e frustração por não ter capacidade de fazer o curso dos meus sonhos: Direito. E também sendo pobre que dá dó, não tive oportunidade de ingressar em qualquer faculdade particular, e olha que implorei por uma vaga de estágio para ser contemplado apenas pelo desconto, mas nada. Mas porque falar de mim, se temos quatro personagens muito mais interessantes do que eu? Bem, o fato é que esses quatro me instigaram. Fiz uma planilha com um roteiro, montei os dias, horários de cada um deles, para que eu pudesse observá-los melhor. Comecei com o Jó.

Jó, que na verdade é Joaquim, é descendente de portugueses. E como todo bom descendente de portugueses que moram no Brasil, é vascaíno, e como bom vascaíno e descendente de português, é filho de padeiros. Trabalha 9 horas por dia. Durante os sete dias da semana, e como seus pais são autônomos, não tem descanso ou remuneração especial. Ganha pouco, e gasta tudo com os amigos. Não poupa, não regula, não se cuida. Não compra roupas, não ajeita o visual, não tira o bigode, é sedentário, mas os outros o vêem como boa pessoa. Só que ultimamente comecei a vincular o termo “boa pessoa”, com “pessoa que gasta o seu dinheiro comigo”. Jó não era muito diferente dos outros que eu observava, mas era rodeado de amigos, de parentes, de colegas. Moscas que voam e caem sobre a carne podre de um peixe morto. O mais cômico é que o Jó ingressou na faculdade no curso de Antropologia, já deveria entender e compreender um pouco mais as relações com as pessoas. Morreu em uma dessas bebedeiras de final de semana, embriagado, pegou a camionete do pai, catou alguns amigos, capotou e morreu. Presunto.

Depois que Jó morreu, perdeu um pouco a graça, pois tive que reinventar o meu itinerário. Passei a observar mais o Alessandro do que os outros. Até ali a paranóia do Gustavo não me interessava, e a obsessão sexual do Henrique, menos ainda. Mas o mau humor exacerbado de Alessandro, tinha algo chamativo. Um cara novo, com semblante baixo, olheiras, como se consumisse drogas, fumasse e bebesse o tempo todo. O que constatei depois, que não era bem verdade – fora o cigarro. Alessandro era pobre. Mais pobre do que eu. E mais do que o Jó. Acordava 05h30min da manhã, pra fazer baldeação e chegar ao trabalho 08h00min. Fitava o relógio o tempo inteiro, mesmo que seu atraso dependesse unicamente de ônibus, metrô e de outros meios de transporte, saberia que lhe custaria o emprego, chegar fora do tempo regulamentado pela empresa. Alessandro trabalhava na área financeira um banco particular, que agora me foge o nome. Era um cara que se dava bem com números, e que tinha reputação ilibada o suficiente pra andar pra cima e pra baixo com qualquer montante que lhe fosse aplicada a responsabilidade. O cigarro, o café, a má alimentação, causavam o seu stress fora do comum. As discussões dentro e fora da empresa (essas também pela empresa), o levaram a uma parada cardíaca fulminante. E as pessoas esqueceram fácil de Alessandro, ele mesmo costumava dizer que não era pago pra dar bom dia pra ninguém. E claro alguém assim quando morre, só é lembrado na festa em comemoração desse evento.

Alguém está me seguindo. Eu vou morrer. Meu Deus, vou me esconder aqui dentro desse fosso.
É, acreditar ou não nesse fato? Eis a questão. Seria até mais complicado se eu não tivesse observado com meus próprios olhos, que a terra há de comer um dia – espero que bem depois que esses quatro forem julgados –, mas há realidade nesse fato. Gustavo estava o tempo todo com uma maldita mania de perseguição. As pessoas já o tratavam como retardado mental, não deixavam ele fazer parte de qualquer grupo social dentro da faculdade, deixavam que encostasse-se à parte mais funda da sala, com 4 carteiras vazias, para só assim, se sentirem seguras. Houve alguns boatos de que certa vez, ele saiu gritando e pedindo socorro dizendo que alguém havia colocado a mão na sua perna e tentado arrancar sua cabeça por trás. Mas se ele era o último da fila, como isso seria possível? Daí surgiram os rumores de sua loucura, e pessoas brincando com ele, apelando, mentindo, fazendo com que ficasse mais perturbado ainda, fizeram com que trancasse o seu curso. Passou a vive enclausurado, num apartamento sem luz, com poucos móveis para não tropeçar nos momentos de medo. Com pouca louça para não machucar-se em seus delírios. Mas foi inevitável. Gustavo tropeçou nos próprios pés em um de seus ataques de alucinação, e bateu a cabeça na quina de sua própria cama. Como o apartamento era bem fechado, ninguém pode ouvir nada. Quando o acharam, ele já estava morto, coagulo de sangue no cérebro. Talvez Gustavo seja o único que eu ainda posso compreender. Ele não morreu por escolhas naturais, diferente de Jó e Alessandro. Ele era doente, e não havia ninguém por ele, assim como ele não estava aí pra ninguém.

Agora o caso mais “esquisito” e repugnante de todos, com certeza foi o de Henrique. Rico, ligeiramente inteligente e até sutil aos olhos de quem o via em público. Irreverente, bem humorado, sorriso de uma pessoa normal. Mas o Henrique tinha em sua cabeça doentia, prazeres sexuais completamente dissonantes do que se costuma a ver. Descobri em minhas observações, que todos os dias ele levava alguém, ou alguma coisa para o seu apartamento. Dentre elas: garotas de menoridade, homens de todos os tipos, e também enchia a casa de plantas e coqueiros. Conseguiu autorização da faculdade, para levar animais de pequenos portes para fazer pesquisas particulares em casa. Cachorros, gatos, aves de várias espécies. O mais incrível foi quando observei com um binóculo por uma enorme fresta em seu telhado – é às vezes é preciso ser habilidoso para descobrir as coisas da vida –, que fazia sexo com um novilho, era maldoso, batia no bicho, e beirava ou transbordava a um comportamento psicopata. Morreu 3 meses depois desse fato, havia adquirido o vírus da AIDS em uma dessas várias experiências sexuais, ficou marcado na vizinha e na faculdade como o Dr. Zoófilo Pedófilo. Claro que a sua família, não deve estar ostentando tanto orgulho agora, não é mesmo?

O pior de tudo é que me sinto tão doente quando todos eles. Eu observei todos eles durante muito tempo da minha vida. Seus vícios, virtudes, atitudes relevantes, irrelevâncias, exageros, coerências. E não usei de nada disso pra transformar minha vida em pontos ponderados de atitudes. Talvez eu seja um mesclado de cada um, mas eu me sinto até feliz por isso. Se eu sou tão doente quanto eles, e ainda estou vivo eu digo: - Viva a minha apoteose. Consagro-me um Deus diante de vós. Não preciso de homologação divina, e nem de aceitação mortal. Eu sei que sou melhor do que eles, do que vocês. Até porque eu sei que você está lendo o meu texto, as minhas experiências, e sabe que ninguém que tenha passado por isso tudo, é mero mortal. Quanta asneira estou dizendo, acho que fiquei louco, sádico, esquizofrênico e resmungão. Todos acordaram com a boca cheia de formiga pelos seus vícios, e doenças. Mas eu não sou doente. Nada pode infectar-me. À não ser o medo de não ser reconhecido. O medo do anonimato. E agora, o medo do escuro.

Vinicius Canova Pires

Escrever, escrever, escrever...

Bom, havia um bom tempo que não escrevia nada no meu outro blog. Trabalhando muito, estudando pra finalizar o semestre com notas regulares, amaldiçoado pela falta de tempo. Eis que me deu na telha criar um outro Blog, até porque o meu estava hospedado na conta do meu querido amigo Pedrouk, e não é justo eu sempre ter a senha dele, que afinal de contas é particular. Acho que agora de uma vez por todas vou poder voltar ao meu flerte com o teclado, com minhas idéias, com minha insegurança expressa por aqui mesmo. Não é verdade?
Acho até que desaprendi a escrever – mas foda-se 80% da população brasileira é analfabeta ou semi -, tanto faz.

Voltei ao meu divertimento, à minha satisfação. Mas infelizmente ando meio sem idéias, sem vontade, passei um tempo sem aprimorar qualquer coisa, sem germinar qualquer ideal. Aí o reflexo de estar escrevendo abobrinhas e fazendo rodeios sem chegar a lugar algum. Mas eu sou bom nisso. Por enquanto é isso. See ya

Vinicius Canova Pires