quarta-feira, 16 de julho de 2008

O palhaço do circo sem futuro




















Que me perdoem os integrantes do Cordel do Fogo Encantado pela ausência de minha criatividade para dar origem a um título original. Mas acho que o próprio José Paes de Lira, já me considera absolvido diante das minhas justificativas para escrever um texto embasado em seu título. Em um de seus shows orneados com tramas teatrais, Lira conta a história de um palhaço moribundo, que recebe o seu filho em leito de morte. Segue-se a narração da história e conseguinte, o diálogo:


“Tudo começou quando o filho, morria de vergonha, porque o pai era palhaço de um circo sem futuro. E ele cresceu sem dizer onde era que o pai trabalhava para os amigos. Sempre muito envergonhado, cresceu com a vida muito amargurada, se formou em outra coisa, e um certo dia recebe a notícia, de que seu pai está no leito de morte. Ele corre até lá, entra no quarto, tira a gravata, tira o paletó, se ajoelha e diz: - Pai, me ensina a ser palhaço? - Pai, me ensina a ser palhaço? - Pai, me ensina a ser palhaço? - Isso não se ensina, seu bosta!”

Faz muito tempo que não sinto tanto êxtase ouvindo ou lendo um prelúdio, quanto senti com O palhaço do circo sem futuro. Sou adepto da teoria de que boa música lav’alma. Um palhaço. Um sorriso. A natureza desse sorriso. A disposição para sorrir. A tristeza. A fraqueza. A morte. E por fim, a insignificância e o esquecimento súbito. Quantos de nós somos palhaços de circos aleatórios e mesmo assim, sem futuro? E quantos de nós ainda insiste em querer aprender como ser um palhaço? E quantos milhões de nós, fazemos parte desse mesmo espetáculo circense que se chama vida, só que em papéis diferenciados, como as próprias marionetes? O que compreende ao texto de Lira, é que não é possível haver metamorfose em nossos papéis. O homem fechado, enclausurado para a vida, para idéias, para o dia-a-dia é responsável pelo seu desfecho “amargurado”.

Há de se compreender também ao próprio prelúdio que se trata de uma metáfora sobre valores morais. O texto passa à quem escuta a fascinação e inclusive encarnar mentalmente a cena. Eu por exemplo, fiz uma série de questionamentos sobre palhaços, desinteresse, morte, vida, abusos, acasos, morbidezes, e exageros. Apesar de Nação Zumbi caracterizar mais a cara de Chico Science pela continuidade póstuma de seu trabalho, creio que O Cordel do Fogo Encantado surpreende, e trato hoje Lira, como um excelente retrato da música brasileira, anexando peças teatrais e todo um espetáculo circense. E com toda a dramatização, não caí no estereótipo efusivo das demais tentativas. Sou um palhaço do circo sem futuro, você não. Quer aprender? Isso não se ensina, seu bosta!

Vinicius Canova Pires

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