segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Brasil também é o país dos trogloditas

Se existe algo de repulsivo no ser humano, e principalmente no homem, é a covardia. Mas, atitude mais covarde do que se esconder atrás dos próprios impulsos, é dar vazão a eles, e colocar em prática os seus ímpetos desumanos.

Estes homens covardes gostam de açoitar mulheres; de espancá-las e maltratá-las. E o que mais deixa o povo perplexo é a falta de vigilância em relação a um problema que há muito já pode ser considerado epidêmico.

“A mão que afaga é a mesma que apedreja”, não se pode traduzir Augusto dos Anjos literalmente, mas se há um significado objetivo para contextualizar tal situação, pode-se contar com a frase embutida no poema “Versos Íntimos” do escritor paraibano.

A desculpa para matar e para viver? O amor. Se já não é o bastante o perigo que representa um ex-marido ciumento e alucinado – principalmente se este nunca aceitou o fim do relacionamento –, o que não representaria um pedido da vítima para sua própria proteção? Se a polícia é acionada, afasta o sujeito momentaneamente, mas basta a viatura policial virar a esquina, e lá esta o meliante novamente, armando o próximo ataque, mancomunando sua covardia.

Lembro que uma das primeiras matérias que escrevi trabalhando no O OBSERVADOR foi pautada em casos de violência doméstica contra as mulheres. Em julho de 2009, entrevistei a delegada titular da Delegacia Especializada em Defesa da Mulher e Família, Edna Mara que em dados superficiais, disse que são no mínimo 06 (seis) mulheres agredidas por dia só na capital.

Na época, a delegada já afirmava:

“- A porta de entrada da violência é a delegacia. E, é apenas o começo. O agressor continua sendo agressor, e a vítima continua sendo vítima. Cada um com suas características. O que precisa ser feito é um tratamento nesses agressores, algo como uma própria reabilitação para que possam conviver novamente com outras mulheres. Existem casos em que o homem comete o mesmo delito, mas a vítima é diferente”.

Ou seja, a recuperação tanto do agressor, quanto da vítima, deveria passar por uma série de tratamentos. Uma verdadeira reciclagem, mas isso é utopia, quando se pensa que nem o que deveria ser feito preliminarmente, por exemplo: o simples cumprimento de uma ordem judicial é efetivado.

Não há interesse político e nem social de fazer com que as determinações da justiça sejam cumpridas. Se há separação de corpos, não há quem fiscalize que ele seja sumariamente respeitado. Afinal de contas, despacho em papel não tem olhos, nem braços, nem armas, e por isso é desdenhado.

Apenas aquele clamor passageiro, a ladainha de sempre que se fala quando acontece uma tragédia de grandes proporções. Mas nós temos memória fraca, assim como vamos esquecer do Haiti em breve, como esquecemos do Collor, da Isabella Nardoni, do João Hélio, e de tantos outros casos que de supetão nos interessam e logo mais perdem o glamour "midiático" e evaporaram no esquecimento.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Um humilde pedido para quem já sofreu tanto

“ – Parece que da balsa pra cá, simplesmente não existe”. A frase é do empresário e ex-deputado estadual pelo Acre, Valdomiro Sóstenes, ao falar sobre a energia elétrica que não chega onde e como deveria chegar. Mas, para falar a verdade essa é só uma das mais de mil situações em que a população da Ponta do Abunã precisou aprender a conviver para levar uma vida relativamente normal.

Para se ter idéia do que os moradores da região passam, não adianta ler jornais, ouvir nas rádios ou ver na televisão. É preciso ir para lá, e estar frente-a-frente com os personagens que ajudaram a desenvolver cada centímetro dos distritos que formam a Ponta do Abunã.

Existe unanimidade no depoimento de praticamente todo cidadão entrevistado, seja ele empresário, trabalhador braçal, ou dona de casa: É difícil o acesso a bancos, correios, falta distribuição de energia elétrica, torre de celular e o puro e simples esquecimento das autoridades públicas já fazem jus à movimentação e a determinação das pessoas que lutam pelo “SIM”.

Como negar um pedido de um povo fadado ao esquecimento? Andar mais de 300 km para resolver problemas burocráticos duas vezes por semana além de um desgaste físico tremendo, somam-se todos os riscos que acarretam a travessia via BR-364, e o povo deixa de ganhar dinheiro. Segundo André Aparecido dos Santos – sócio da madeireira Abunã Madeiras, uma ida ao centro de Porto Velho representa três dias de trabalho perdidos, e um gasto de no mínimo R$ 500,00 por pessoa.

Outro personagem interessante é o Zé Gaúcho. Ele é morador de Extrema, mas peregrina durante quase 24 horas a Ponta do Abunã inteira tentando convencer a população a votar no 55 e confirmar, representando assim, uma vontade que pode até ser da maioria, mas ninguém ainda fez esforço que representasse tal querer.

O plebiscito acontecerá no dia 28 de Fevereiro, e todos os portovelhenses deverão votar pelo mérito. Lembrando que pela última vez, um distrito poderá se emancipar através de plebiscito, já que o objeto já tramita há muito tempo.

É a chance que a população de Fortaleza do Abunã, Vista Alegre, Extrema e Nova Califórnia terá de se tornar independente, de produzir e compartilhar, de ter chances de evoluir. É uma condição que todos nós deveríamos ter, e os que têm deveriam se compadecer e levar esse tipo de informação adiante.

Eu voto “SIM”, o povo sofrido e trabalhador da Ponta do Abunã merece ter perto de suas casas tudo aquilo que nós podemos desfrutar. Se não podemos tentar melhorar o mundo sem sermos convocados, eu espero sinceramente que cada um contribua com isso em sua pequena parcela de obrigação.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Incapaz?

“Eu não posso”, “eu não consigo”, “eu já perdi”, “não me resta mais o que fazer”, entre outras frases célebres entre os declarados perdedores, ecoam na cabeça das pessoas que enfrentam suas primeiras dificuldades e fraquejam. Eu não gosto de qualquer tipo de texto de auto-ajuda, acho que eles vão completamente na contra-mão da funcionalidade; todavia, existe uma história real em particular que vale a pena ser contada exatamente para uma finalidade motivadora.

Le Scaphandre et le Papillon (O escafandro e a borboleta) filme europeu dirigido por Julian Schabel e com roteiro baseado no livro de Jean-Dominique Bauby – editor da revista francesa Elle – e protagonista do filme, tira a idealização da “pena de si mesmo”.

Aos 43 anos Jean-Do (como é chamado pelos amigos mais próximos) sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) enquanto andava de carro com seu filho, ficando em coma por aproximadamente vinte dias. Ao acordar, a junta de médicos designada para cuidar de seu caso, constata que ele está em uma condição de enfermidade rara: a síndrome do locked-in.

A síndrome de Locked-in faz com que os pacientes permaneçam cientes e despertos, mas incapazes de se mover ou de se comunicar dada a paralisia que atinge praticamente todos os músculos voluntários do corpo. Esta condição é resultado de uma lesão no tronco cerebral na qual a parte ventral da ponte é danificada. A síndrome de Locked-in é descrita como "a coisa mais próxima de ser enterrado vivo".

Mesmo assim, com a ajuda de seus médicos que utilizaram uma técnica de comunicação até então nova, Jean-Dominique começou a se comunicar piscando uma vez para toda letra que quisesse usar e que fosse pronunciada pelo seu interlocutor, formando frases e fazendo com que Jean, dez dias antes de sua morte, visse a capa de seu livro pronto, conquistado com muito suor e descrevendo não só o sofrimento, mas a beleza de poder usar a extensão máxima de sua imaginação.

E aí, será mesmo que você não consegue nada? Será que é impossível ir mais a frente? Não se sabe o quão bem se está, até estarmos nestas condições limitadas, mas ainda sim, podemos concebê-las ao ler, ver e ouvir relatos como estes. Você realmente é incapaz?

Vinicius Canova Pires
viniciuscanova@live.com

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Uma nova tendência

A Ordem DeMolay pode ser vista por vários prismas: algumas pessoas têm medo, outras sabem do que se trata (ao menos em sua superfície), e outros, fazem parte dela. E dentre todos os boatos, mentiras e verdades, o que deixa um saldo positivo disparado, é a realização de atividades filantrópicas, sem a pretensão do “receber algo em troca”.

Ordem DeMolay é uma organização filosófica, fraternal e iniciática, para jovens - do sexo masculino - com idade compreendida entre os 12 e os 21 anos. Isso não significa que aos 21 você é obrigatoriamente, destinado a partir da sua fraternidade, mas deixa de estar ligado de forma obrigatória com as tarefas que se propôs a realizar.

Particularmente, meu contato com a Ordem foi rápido, mas em qualquer lugar do mundo em que eu tenha buscado contemplação nas minhas incursões em busca de conhecimento e saber, superaram os ensinamentos que tive enquanto estive lá, e os que ainda recebo enquanto amigo dos atuais freqüentadores. É obviamente um lugar que faz com que você extraia espontaneamente o melhor de si, mas não para guardar e sim, para contribuir com essa parcela de benevolência ao mundo que hoje está sendo tão malévolo para tantos.

É ver também, que as boas ações não precisam estar ligadas ao medo e receio de duras penitências pós-morte, nem a bem-vindas restituições religiosas, ou até mesmo monetárias – para os mais gananciosos. Tanto funciona assim que todos lá dentro têm direito a seguir a religião que quiser desde que, tenha alguma. É necessário esse desprendimento do egoísmo que pode nos prender ao fictício de que os seres humanos são únicos nesse universo e estamos aqui por acaso, aberrações oriundas de misturas químicas acidentais.

E eu tive todo esse aprendizado com alguns deles, em especial posso citar: Raphael Braga Maciel, Maurício Freire, Felipe Lima, João Peron e César, que são pessoas que se empenham todos os dias, pela lapidação de seu caráter e na aptidão para passar esse aprendizado a frente. São mais do que exemplos para mim, de vida e de retidão.

No fim das contas, o que se vê, são jovens que são indicados já por terem uma inclinação boa para o bem, para o resguardo do bom e velho trato social e uma inspiração que banha a outros jovens em seus discursos recheados de verdades e de ações. Lá dentro não basta falar, é preciso fazer, idealizar, projetar e principalmente, concretizar.

Essa é uma ideologia que não precisaria estar presa a um templo, ou a um grupo só de pessoas, mas é nessa célula de atuação que a disseminação e a propagação de uma nova postura, direcionada a ajudar outras pessoas que estão precisando, é extremamente necessária. Sem os patamares que diferenciavam as pessoas na era feudal: é o clero, nobreza, camponeses e vassalos andando de mãos dadas em prol de um mundo melhor, que infelizmente por enquanto, ainda parece utópico.

O pensamento coletivo e a participação das pessoas em qualquer núcleo político-social geram uma contaminação de ego, que nos direciona a uma conduta boa ou ruim, dependendo do que se prega, e como se prega, em determinada instituição. E é aí que está a salvaguarda do nosso futuro. Com pequenos gestos, e contextualizando – mesmo que virtualmente – um mundo melhor, é possível que as pessoas comecem a acreditar mais em si e nas futuras gerações.