terça-feira, 1 de setembro de 2009

Chegou o dia

Chegou o dia que ele esperava. O dia que ele clamou e depois temeu. O dia que a clausura evitaria todos os espécimes ao seu redor. O dia em que suas últimas vontades perderiam a graça. O dia em que a lamúria, o ódio, o temor, o descompasso louco das paixões e conexões amigas o deixariam para trás. O dia em que o avanço tecnológico não mais o satisfaria, que as leituras estariam desprovidas de sabor, e também, que a comida virou apenas uma questão de sobrevivência. O dia em que o prazer, a degustação e os pequenos gestos proveitosos não mais o interessavam.

Neste mesmo dia, os passos retrocederam uma vida inteira, mas ao invés de tornar novamente todos os pequenos passos da vida em prazer, fez-se sucumbir numa extrema dor criada a partir de seu ego inflacionado. Ele deixou de ser adulto, deixou de ser adolescente, e tornou-se novamente uma criança. Uma criança inerte sob o ponto de vista adulto. Um ser acéfalo dilacerado pelo esquecimento e enterrado em sua própria vaidade. Aonde além dele próprio, os seus pontos periféricos de visão, também sucumbiram a uma voz retilínea que sempre disse: - Você está certo, você está certo.

Naquele momento, todos os seus pensamentos se tornaram confusos demais pro seu próprio entendimento. Afogado em desespero, manteve a cabeça erguida olhando para os céus – coisa que nunca fez –, esperando encontrar respostas. “Qual a direção que devo tomar nesta encruzilhada?” – ele se perguntava. Era doloroso, era sofrível, mas as lagrimas nunca desciam. Ele sentia por dentro, os pequenos estilhaços de uma vida destruída o corroer por inteiro. Uma dor semelhante a uma gangrena putrefando o seu corpo em vida, e é claro, sem morfina. Mas é óbvio que ele, muito orgulhoso, não derramava sequer uma lágrima.

Conforme o seu desinteresse, via suas opções se esvair de suas mãos. O desinteresse virou constante em sua vida, e cada dia que passava era comemorado com uma cerveja holandesa e uma proliferação de palavras avulsas que normalmente queriam dizer: - Obrigado, menos um dia pra eu morrer. E estas palavras, já eram as últimas que não entalavam em sua garganta, desde que o dia chegou, desde que chegou o dia.