Finalmente! Um pouco de luz, um pouco de eixo, um pouco de espaço, um pouco de ar, um pouco de alimento, um pouco de energia. Eu andei sedento esse tempo todo, buscando em infinitas coisas, o que pra mim era a pura necessidade de atenção e das coisas que regem as matérias básicas do coração. Eu tentei ser como meus amigos, ser como meus inimigos, meus opressores, meus professores, meus pais e familiares. Eu perdi a qualidade de ser único e versátil, para tornar-me universalmente fútil e desagradável. Eu vesti o que não me agradava, eu comia o que descia enojado, eu agradei políticos, eu um fui político! Eu não rejeitei nem a corja dos imbecis que sempre critiquei. Fui a carnavais, festas de final de ano, ressacas de bebedeiras intermináveis com o pessoal do forró. Forró? Quando isso foi música? Queimei meus discos de vinil, vi as capadas de Chico Buarque de Holanda em chamas ardentes, se alastrando por uma dispensa de coisas que considerei obsoletas, quando eu perdi a sombra da minha personalidade.
Fui ao templo sagrado do reino do Deus, quando este mesmo Deus fora renegado e deturpado por diversas vezes pela boca deste que vos fala. A mania antiquada de saquear dinheiro dos ignorantes, mas que no final das contas acabou me atraindo, foi o que trouxe à tona essa sedução. Entrar para igreja, e ficar rico. Coçar o saco, benzer meia-dúzia de pobretões e gozar em festas particulares e aventuras desregradas. O que há de mal nisso? Quantas sucessões de padres, pastores e patriarcas católicos e evangélicos já viveram essa vida mansa – e melhor ainda –, sem o ministério púbico e o tribunal de contas no pé. Ué! E melhor ainda, igreja não declara imposto. Vida boa. Quando saí dessa vida, e pisei no primeiro chão fora de igreja, vi em mim, um homem. Mas não um homem comum, observei a total falta de perspectiva, e a vontade de ter novamente em mim, aquela maldita sombra que me deixou ao relento da mediocridade. Agora sem a turma do forró, sem Jesus Cristo, sem as futilidades, fui perdendo de vez a ambigüidade que me deixou agregar nesses grupos políticos, com a costumeira postura da boa vizinhança. Mas como voltar a ser “eu mesmo”, sem que deixe às claras as minhas seqüelas? Eu sinto como se as minhas vísceras estivessem expostas. E um ferimento assim exposto, é apenas um toque para que ocorra uma hemorragia.
Eu andei introspectivo nessas duas últimas semanas, tentei avaliar qual era o melhor meio para fazer a minha travessia. É como se houvesse um caminho longo a ser percorrido, com obstáculos, com barreiras, e como se não houvesse respaldo nenhum para chegar ao fim. Sem as ferramentas necessárias, sem meus amigos, sem fé, sem caráter, o caminho foi ficando mais estreito, o ar mais comprimido. Estou gripado, e essa gripe vem concomitantemente à minha tuberculose. E depois de desregrar completamente a minha vida, querendo voltar a ser o que era antes, vejo que não é mais possível. E fico pensando: - Como foi tão fácil mudar pra pior. Por que pra melhorar, é preciso ir morrendo aos poucos? É como se fosse possível sim voltar ao meu estado de natureza, o que eu realmente sou, porém não sem perder muitos anos de vida. Cansaço. Essa é palavra certa pra designar o que eu sinto. Eu posso largar tudo de mão, e continuar com a estirpe de gente ignorante, dando voltas, voltas e mais voltas pela vida e mentindo pra mim mesmo. Mas acho que esse caminho seria muito mais difícil. A minha consciência não permite mais mentiras. É como se o meu lóbulo começasse a latejar. E mesmo se pedisse a Deus por obséquio para aliviar-me a dor, isso não aconteceria. Com que fé isso aconteceria? Meus preceitos religiosos, não me permitem esse tipo de apelação. Mesmo que às vezes seja impossível e inevitável clamar por Ele. Essa dor é gradual. Acho que não é mais possível aliviar o meu cansaço. E tampouco voltar a ser o que era antes, sem me machucar profundamente. Penso sim, no isolamento. Mas junto ao isolamento vem-me à cabeça a palavra: covardia. E ser covarde não me agrada. Usei muito esse adjetivo para com os outros, e usá-lo em mim agora, seria desistir da vida. Mas acho que foi a vida mesmo que designou-o a mim. Fica latente em minha cabeça: Nasci e me criei como um bravo, vivi como um bom político que sou, e vou morrer como um covarde. Assim o é, assim eu sou.
Vinicius Canova Pires
Fui ao templo sagrado do reino do Deus, quando este mesmo Deus fora renegado e deturpado por diversas vezes pela boca deste que vos fala. A mania antiquada de saquear dinheiro dos ignorantes, mas que no final das contas acabou me atraindo, foi o que trouxe à tona essa sedução. Entrar para igreja, e ficar rico. Coçar o saco, benzer meia-dúzia de pobretões e gozar em festas particulares e aventuras desregradas. O que há de mal nisso? Quantas sucessões de padres, pastores e patriarcas católicos e evangélicos já viveram essa vida mansa – e melhor ainda –, sem o ministério púbico e o tribunal de contas no pé. Ué! E melhor ainda, igreja não declara imposto. Vida boa. Quando saí dessa vida, e pisei no primeiro chão fora de igreja, vi em mim, um homem. Mas não um homem comum, observei a total falta de perspectiva, e a vontade de ter novamente em mim, aquela maldita sombra que me deixou ao relento da mediocridade. Agora sem a turma do forró, sem Jesus Cristo, sem as futilidades, fui perdendo de vez a ambigüidade que me deixou agregar nesses grupos políticos, com a costumeira postura da boa vizinhança. Mas como voltar a ser “eu mesmo”, sem que deixe às claras as minhas seqüelas? Eu sinto como se as minhas vísceras estivessem expostas. E um ferimento assim exposto, é apenas um toque para que ocorra uma hemorragia.
Eu andei introspectivo nessas duas últimas semanas, tentei avaliar qual era o melhor meio para fazer a minha travessia. É como se houvesse um caminho longo a ser percorrido, com obstáculos, com barreiras, e como se não houvesse respaldo nenhum para chegar ao fim. Sem as ferramentas necessárias, sem meus amigos, sem fé, sem caráter, o caminho foi ficando mais estreito, o ar mais comprimido. Estou gripado, e essa gripe vem concomitantemente à minha tuberculose. E depois de desregrar completamente a minha vida, querendo voltar a ser o que era antes, vejo que não é mais possível. E fico pensando: - Como foi tão fácil mudar pra pior. Por que pra melhorar, é preciso ir morrendo aos poucos? É como se fosse possível sim voltar ao meu estado de natureza, o que eu realmente sou, porém não sem perder muitos anos de vida. Cansaço. Essa é palavra certa pra designar o que eu sinto. Eu posso largar tudo de mão, e continuar com a estirpe de gente ignorante, dando voltas, voltas e mais voltas pela vida e mentindo pra mim mesmo. Mas acho que esse caminho seria muito mais difícil. A minha consciência não permite mais mentiras. É como se o meu lóbulo começasse a latejar. E mesmo se pedisse a Deus por obséquio para aliviar-me a dor, isso não aconteceria. Com que fé isso aconteceria? Meus preceitos religiosos, não me permitem esse tipo de apelação. Mesmo que às vezes seja impossível e inevitável clamar por Ele. Essa dor é gradual. Acho que não é mais possível aliviar o meu cansaço. E tampouco voltar a ser o que era antes, sem me machucar profundamente. Penso sim, no isolamento. Mas junto ao isolamento vem-me à cabeça a palavra: covardia. E ser covarde não me agrada. Usei muito esse adjetivo para com os outros, e usá-lo em mim agora, seria desistir da vida. Mas acho que foi a vida mesmo que designou-o a mim. Fica latente em minha cabeça: Nasci e me criei como um bravo, vivi como um bom político que sou, e vou morrer como um covarde. Assim o é, assim eu sou.
Vinicius Canova Pires
Nenhum comentário:
Postar um comentário