Estes homens covardes gostam de açoitar mulheres; de espancá-las e maltratá-las. E o que mais deixa o povo perplexo é a falta de vigilância em relação a um problema que há muito já pode ser considerado epidêmico.
“A mão que afaga é a mesma que apedreja”, não se pode traduzir Augusto dos Anjos literalmente, mas se há um significado objetivo para contextualizar tal situação, pode-se contar com a frase embutida no poema “Versos Íntimos” do escritor paraibano.
A desculpa para matar e para viver? O amor. Se já não é o bastante o perigo que representa um ex-marido ciumento e alucinado – principalmente se este nunca aceitou o fim do relacionamento –, o que não representaria um pedido da vítima para sua própria proteção? Se a polícia é acionada, afasta o sujeito momentaneamente, mas basta a viatura policial virar a esquina, e lá esta o meliante novamente, armando o próximo ataque, mancomunando sua covardia.
Lembro que uma das primeiras matérias que escrevi trabalhando no O OBSERVADOR foi pautada em casos de violência doméstica contra as mulheres. Em julho de 2009, entrevistei a delegada titular da Delegacia Especializada em Defesa da Mulher e Família, Edna Mara que em dados superficiais, disse que são no mínimo 06 (seis) mulheres agredidas por dia só na capital.
Na época, a delegada já afirmava:
“- A porta de entrada da violência é a delegacia. E, é apenas o começo. O agressor continua sendo agressor, e a vítima continua sendo vítima. Cada um com suas características. O que precisa ser feito é um tratamento nesses agressores, algo como uma própria reabilitação para que possam conviver novamente com outras mulheres. Existem casos em que o homem comete o mesmo delito, mas a vítima é diferente”.
Ou seja, a recuperação tanto do agressor, quanto da vítima, deveria passar por uma série de tratamentos. Uma verdadeira reciclagem, mas isso é utopia, quando se pensa que nem o que deveria ser feito preliminarmente, por exemplo: o simples cumprimento de uma ordem judicial é efetivado.
Não há interesse político e nem social de fazer com que as determinações da justiça sejam cumpridas. Se há separação de corpos, não há quem fiscalize que ele seja sumariamente respeitado. Afinal de contas, despacho em papel não tem olhos, nem braços, nem armas, e por isso é desdenhado.
Apenas aquele clamor passageiro, a ladainha de sempre que se fala quando acontece uma tragédia de grandes proporções. Mas nós temos memória fraca, assim como vamos esquecer do Haiti em breve, como esquecemos do Collor, da Isabella Nardoni, do João Hélio, e de tantos outros casos que de supetão nos interessam e logo mais perdem o glamour "midiático" e evaporaram no esquecimento.