sexta-feira, 19 de junho de 2009

Crônica: Um homem, muito potencial, pouca gana...


Pessoas comuns são fáceis de decifrar. Elas seguem diariamente um itinerário rigoroso, e toda e qualquer mudança acarreta num peso extremo de indecisões sobre suas costas, portanto, preferem manter-se inclinadas para uma vida planejada e se mantém distantes de conjecturas sobre possíveis falhas e caminhos alternativos, que serviriam em uma possível “rota de fuga”. Mas mesmo assim, elas vivem. Por que vivem? Ora, elas têm objetivos: sejam metas profissionais, manutenção do corpo e da mente, retidão religiosa, enfim, tanto faz. Cada pessoa é um conglomerado de ações despretensiosas, mas recheadas de atrevimento ou até mesmo falta dele.

Infelizmente para mim, nem todo ser humano é desse jeito. Meu nome é Jorge Freitas Soares e eu poderia listar agora uma inúmera relação de cargos públicos que tenho condições de ocupar. Mas resolvi ficar com um emprego particular – particular demais até pro meu gosto, e principalmente de quem dependo financeiramente –, a vadiagem. Algumas pessoas possuem o dom da interação, soma-se a capacidade de manipular um objetivo, com a cabeça ativa e pensante e vuolá: temos um analista de sistemas, por exemplo. São trabalhos dignos e objetivos pra uma pessoa que não faz absolutamente nada. Já no meu caso, é algo que está longe da minha realidade.

A minha característica principal também é a análise, mas não de sistemas, e sim de pessoas. Observar cada movimento, tique nervoso, jeito de falar, andar, comer, beber, expressar, tornou-se algo vital para mim. Em outras palavras: obsessão. Nós vivemos num país, onde muitos são analfabetos, e os poucos que sabem ler, se dão o luxo de serem analfabetos funcionais. Pegando esta analogia e transferindo para as pessoas, podemos dizer que acontece o mesmo. Reclamações aos montes sobre outrem que nos passa a perna, que nos engana, que quebra os nossos corações. É culpa de quem? Deles, ou nossa? Essa resposta é muito pessoal, então ao invés de apontar culpados, eu prefiro simplesmente dizer que me posiciono a favor de expressar que EU sou culpado por isso.

Quando tomo banho logo pela manhã, minha cabeça dispara centenas de pensamentos, características, trejeitos, e assuntos. E é no decorrer do dia, e das situações que eu vou escolher sobre o que vou pensar. Todos os dias eu tomo café da manhã na Avenida Paulista, escolho um lugar discreto, mas que me dê ampla visão das pessoas que andam pela rua. Vejo lindas mulheres, pomposas, usando trajes de empresárias de grande escalação, mas não são. São jovens mulheres, que arriscam em sua indumentária a exposição de sua personalidade. E o que elas são? Secretárias, telefonistas, ou têm qualquer outro cargo administrativo no serviço público, mas dificilmente, são ou serão chefes.

As mulheres poderosas que chegaram com dificuldades ao topo de uma carreira são discretas. Não se lixam para aparência, mas não exageram. A maquiagem é pouca, os saltos moderados, as roupas normais, tudo isso porque sabem que no decorrer do dia, a decisão final é delas, parecendo a Pamela Anderson versão executiva ou sendo a Betty – a feia. Tenho 20 anos de idade, eu poderia estar estudando ciências humanas ou exatas, ou no limiar na idade adulta, que para maioria ainda está relacionada a bebedeiras e putarias, estar fazendo o mesmo. Mas é difícil entender uma pessoa que não tem planos, metas, vontades, apesar de ter aptidões que muitos que possuem estes requisitos gostariam de ter.

Mais cômico do que o café da manhã, é no início da noite. Hora de ir pra faculdade. Centenas de acadêmicos de Direito andando pelo campus, como se fossem desembargadores ou juízes de renome. Eles não fazem a mínima idéia do que esperar de um curso como esse, apenas pensam no leque de opções que eventualmente teriam caso terminassem com sucesso uma faculdade, mesmo que levada nas coxas. Essa na verdade, é a sensação do começo. Quando passa um ano, a verdade já está estampada na cara de cada um deles. Na maioria já dá pra ler nitidamente: PERDEDOR, FRACASSADO E DESISTENTE. Outros sentem a pressão, começam a se alertar com as dificuldades, e têm um caminho dúbio que pode ser a consagração ou a frustração, mas mesmo nessas condições, eles ao menos têm opções. Agora.., a minoria assustadora que deve ser o equivalente a duas ou quatro pessoas de uma sala formam a casta de profissionais precisos. Como eles são? Os come quietos. Entram e saem da sala sem ninguém perceber, não alardeiam sobre seus potenciais, não bajulam professores, e conseguem o que querem na medida de seus esforços.

Estão curiosos sobre minha posição nessas três espécies de acadêmicos? Sou o do caminho duvidoso. Ter uma vida como a minha pode causar em algumas pessoas o sentimento de pena. Pensam que sou infeliz, porque preciso saber de tudo, perceber tudo e contestar tudo. Outros, que já não são muito meus fãs, saboreiam cada momento em que pensam que eu esteja angustiado, sem caminho, tentando achar respostas. Na verdade, para esses caros cidadãos, só tenho a dizer que o engano é a tônica eficaz de suas vidas. Sou feliz, muito feliz. Porque não tenho só uma resposta, eu tenho um banco de dados inteiro e quase completo.

Só não é completo, porque ainda não encontrei a única resposta capaz de direcionar minha vida. A pergunta para essa resposta escondida em incógnita é: - Aonde achar motivação? Sem religião, sem vontade de promover um caminho contínuo de hereditariedade, sem pretensões políticas, sem vocação criminosa. É difícil saber aonde me encaixar, mas eu ainda creio que não perdi o meu tempo. Somando tudo o que tenho, em breve trilharei o caminho ao qual pertenço. Não importa se para os outros esse caminho pareça bom ou ruim, o que me importa é que ele me receba de braços abertos e me dê a entender que estou em casa.


Vinicius Canova Pires

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