quarta-feira, 10 de junho de 2009

O verbo prover



Cada um de nós tem um “quê” de super-heroísmo. Na maioria dos casos assas atitudes advém da hipocrisia que é reacionária, normalmente de acordo com o que fazemos às escondidas e na hora da passagem da oportunidade sabemos sabiamente apontar em nossos próximos. Salvamos vidas, claro. O amigo corno, o colega que não passou no vestibular, a mãe que aborta, o pai que bate na mãe, o irmão que cheira pó, enfim. São tantas as vezes em que o nosso dedo indicador tem a necessidade de interceder, que não conseguiríamos talvez contar, caso houvesse chance de um flashback de toda a nossa vida.

Precisamos semear um pouco de bondade sublime que parte de nós mesmos. Mas isso seria difícil, muito difícil, se não conseguíssemos identificar as causas dessas atitudes. E como conseguimos? Fácil. Todo homem coberto com o Santo Sudário também já apalpou a indumentária de Baphomet. O mundo é algo banal, os assuntos intelectuais não tem mais sentido, e uma hora ou outra, até os superficiais perderão a sua graça. E aí, o que nos resta? Ora bolas, o sermão. As vezes há intermitência entre uma fase e outra, mas os sermões estão sempre lá, ajudando os necessitados – e no caso a necessidade não é do ouvinte e sim do locutor que deseja de forma fervorosa abastecer seu ego e deixar de ressabiar-se nem que seja por um minuto –, e cultivando o show de marionetes humanas.

O ser humano é a mais burra das criaturas – mesmo sendo a mais criativa delas, devemos salientar –, perde a sua vontade de buscar a verdade, quando ouve passivamente a primeira pessoa enxertar seus ouvidos com discursos demagógicos e sem nexo. Se sente aliviada com tanta complacência, e ao invés de usar sua depressão e o beijo que foi dado no chão como combustão, aloja-se novamente na vida pacata e na aceitação do dia-a-dia, achando que todos os seus problemas foram resolvidos. Mesmo a mais benevolente das pessoas, o mais integro e amável dos homo-sapiens espera uma recompensa numa atitude. Nem que seja moral. Ele sabe que o conforto que oferece a uma pessoa, é também a garantia do esquecimento de tudo de ruim que deixou pra trás.

Um bom exemplo são alguns cristãos, que ao serem indagados sobre suas vidas promíscuas, simplesmente proferem: “Jesus morreu por nós. E levou com ele todos os nossos pecados, já estamos absolvidos perante Deus.” Que discurso mais lindo esse, não!? Tem até um toque Shakespeariano. Todo esse lance de dar a vida, começar do zero. Mas os nossos queridos colegas de espécie, esquecem que normalmente as pessoas recomeçam para mudar, para progredir, crescer, e aí sim, ter justificativa plausível para esse tipo de redenção.

Mas vocês não precisam de Deus para se redimirem. Eu estou aqui, também conheço vários 0900 que oferecem esse tipo de serviço de massagem de ego. Ah, eles costumam cobrar mais caro do que eu, já que não faço muita questão de cobrar imposto. Eu provejo, tu provês, ele provê, nós provemos, vos provedes, e eles provêem.

Vinicius Canova Pires

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