segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O empalamento de minh’alma



Gostaria que os métodos de tortura tivessem contemplado o seu fim juntamente com o final da santa inquisição. Infelizmente ainda me sinto submetido à isso tudo. Claro que se eu colocar de forma física, nunca conseguiria materializar hoje, quão dolorosa foi aquela época. Pessoas julgando você por fazer sexo com o Satanás, que maravilha! Bem que William Shakespeare disse: “O demônio pode citar as escrituras para justificar seus fins”. E hoje é diferente? Igreja católica com sua demanda incessante de padres pedófilos (perdoai a generalização, oh Pai) ou a igreja evangélica e seus asseclas dinheristas como o caso de um dos nossos queridos donos de redes de televisão e família? Enfim, uma de nossas queridas deputadas estaduais ***** **** disse bem ao nosso mais querido ainda governador na legislatura passada: “Nós não vamos mudar o mundo, então vamos pra praia, vamos pro sítio, e encher nossos bolsos.” Bem, talvez não seja um retrato fiél do que ela efetivamente disse, mas quem se importa? Eu? Eu não.

Eu me abstive de manifestar opiniões de ordem política em meus textos, e até de ordem religiosa, quem sabe uma ou outra manifestação de cume agnóstico, mas nada além disso. Eu só não consigo compreender hoje porque todo o marasmo de nós mesmos, se a gente vive a mesma merda da idade média? Ok, pode até parecer exagero, mas se pensarmos bem, com olhar cirúrgico, com uma perspectiva bem mais realista do que o oba-oba cotidiano, veríamos que nossa vida está direcionada a gente tão vagabunda e mau caráter quanto o personagem que inspirou o Conde Dracula de Bram Stocker, o príncipe e outro queridíssimo Vlad Tepes. A grande diferença fora o suplício físico é a própria vontade de descartar o suplício mental (quero aqui, manifestar a idéia de que simplesmente vivemos, quando deveríamos lutar). Hoje nós não somos obrigados a coexistir com qualquer tipo de tortura. Nós temos constituição, temos leis, vivemos a possibilidade de falar em público, manifestar opinião pra quem quiser ou não nos ouvir. E mesmo assim, não fazemos nada. O que há de errado? Talvez eu saiba.

Não posso mentir pr’eu mesmo, nem pra quem possivelmente lerá algum texto meu. Conheci um dos métodos de tortura mais famosos um dia desses, sugestão de alguns amigos que gostam de trocar vagas idéias durante uma refeição ou outra. Lí uma porrada de textos sobre o empalamento, e digo à quem quiser: Estamos mais no espeto do que jamais estivemos antes. Por quê? Simples. Nós escolhemos estar. Quem elegeu os nossos carrascos? Quem foi que incutiu o livre arbítrio em outrem para nos humilhar e passar vexame? Nós mesmos. O que eu posso dizer? Que é mais um texto de utilidade pública? Não, nem posso dizer isso, até porque eu sempre caio em contradição, eu não seria um bom militante em qualquer área de manifestação, mas em meus lapsos de questionamentos e quando eu consigo um “quê” de divagação intelectual tenho vontade de expressar algumas coisas que considero ter uma significante relevância no cotidiano de um ser humano comum.

Finalizando. Livre arbítrio é uma expressão, que se pisarmos no chão e olharmos pra frente, não conseguiríamos observar a materialidade dela. Afinal de contas, poder fazer o que bem entender, quando bem quiser, ainda é um privilégio de poucos. Mesmo que se tenha vontade, discernimento, e compreensão ainda é preciso agregar uma série de outros fatores para que se tenha a dita liberdade de expressão. A dificuldade que temos em externar nossos pensamentos e atitudes, é que facilitam o desuso da expressão, aliás, hoje em dia é fácil qualquer pessoa falar em livre arbítrio em algum discurso moralista, porém, como opinião própria, eu não vejo que seja mais tão fácil assim. Então já que estou confessando um crime, quero dizer que apesar de mentalizar e dialogar horas comigo mesmo, pensando exatamente todas essas coisas, é que resolvi que: não vou fazer nada. É, é exatamente isso que estou dizendo. Não vou fazer nada, porque pra mim é mais fácil ver o noticiário, ler um jornal, dar minha opinião, e cruzar os braços. Mas sinceramente, eu ainda creio na mais forte das esperanças, que um dia há de vir alguém que celebre o dom da atitude. E que tenha o poder da palavra, e que alcance enfim o sentido real de livre arbítrio. Até lá, quero convidar todos vocês para jantar frango assado e assistirem ao meu empalamento, o empalamento de minh’alma. Bom apetite.


Vinicius Canova Pires


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