quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Normalidades ao acaso

O fumante e seu cigarro. O tatuado e sua tatuagem. O ébrio e sua bebida quente. O drogado e suas “norcotoxinas”. O flagrado e o flagrante. É sobre isso que estou falando. O hábito, a sensação costumeira oriunda daquilo que ontem poderia ser flagrante e hoje se torna cabal. Ah! A criança. Na nossa melhor época, na nossa melhor idade, imprescindível era o dom da dúvida. Livre arbítrio – com toda a extensão que esse termo pode alcançar –, a decisão, o tato, desconhecer a abstinência dos vícios físicos e psicológicos. Desconhecer o fracasso, ou pelo menos estar absolvido as conseqüências do mesmo, resguardo familiar, respaldo de toda a sociedade.

Hoje, infelizmente é diferente. Depois da infância os hábitos e as descobertas são peneirados e tornam-se assim, vícios. Perdemos toda aquela autonomia de decisão sobre o que fazer, e o que aprender no dia-a-dia. Não sou fã da expressão “força de vontade”, não desrespeitando os que confiam piamente nela, mas creditando ao todo que me baseio. Se deixamos o mundo em que vivemos deixar de ser trivial e tornar-se fator primordial, é porque a tal “força de vontade” não atuou na tentativa de impedir, e sim, compactuou com a nossa degeneração. Criando assim, nossos hábitos mórbidos e desregulados. E aí, surge a dúvida: Se começamos por vontade, como podemos dizer que essa mesma vontade pode efetivamente mudar de uma hora pra outra?

Acredito em mudanças, sim. Mas também acredito que somos muito fiéis aos nossos vícios. Tão fiéis que mesmo que se toda nossa vontade corporal exprima a vontade de largar, e a própria parte da mente que diz respeito ao pensamento mero e superficial, mantenham a decisão física, o nosso subconsciente não nos deixa viver em paz, até que se tenha uma visão nova e também “costumeira” de outros hábitos. A força de vontade nada mais é que substituir um vício pelo outro. As diferenças entre eles, podem ser muitas, como também podem não ser nada. Um cigarro de maconha por cigarros, cigarros por comida, bebida por religião, roubo por trabalho. Um vício pelo outro, deixar de se entregar a uma coisa, por outra. No final das contas, nada muda. Felicidade? Como assim? Bobagem!

Nossos vícios nos sustentam. Eles caracterizam quem nós somos, e largá-los – no caso, substituir –, nada mais é que dar margem a uma nova caracterização, não menos ridícula, ou não melhor do que somos ou deixamos de ser. Esse texto é base em perspectivas minhas quando divago em introspecção. Diz respeito ao que sou, e ao que penso representar o resto das pessoas. O que penso nada mais é, que a vontade de não relevar questões viciosas. Compreender sim, a cerne de todas as questões, mas tentar compreender, não. Quem somos, e o que somos, só diz respeito a nós mesmo. E creio eu, em todas a minha ignorância, que somos os únicos capazes(de forma limitada) de decifrar-nos. -nosos capazes(de forma limitada) de decifrar-nos.

Vinicius Canova Pires

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